Esse amor, essa paixão.
Não vou poder fingir que não te vi na rua ou nos corredores do ICH, pois você não vai estar lá, você não está mais nesse mundo.
Vi sua partida numa mensagem de e-mail. E, sempre me pergunto da profundidade das relações que nunca foram colocadas a prova, dos beijos que nunca aconteceram, mas que de alguma forma, foram sentidos.
O calor é tudo o que posso me lembrar de concreto. O calor do seu corpo, o meu apelido, o seu olhar, e um pouco do seu abraço.
É tudo que posso dizer que tenho.
Sonhei mil vezes em te encontrar por aí, te mandar uma mensagem.
Mas nunca fiz, nossas vidas foram passando, tive meu filho, me casei, construí casa. E, você estava lá nas minhas melhores memórias.
Escolhi algo só meu naquele ano, e no primeiro dia de aula te vi recostado na parede, um vulto intenso de todos os meus secretos sonhos.
Ainda imatura para seguir o mais rápido possível para falar com alguém que não tinha pouco do meu passado, mas tinha tudo de mim de alguma forma.
Vesti um rosto de surpresa enquanto você caminhava em minha direção, e tentei dizer para o mundo que ainda não tinha te visto. Você me chamou do jeito que há anos me chamava: Juju.
Devo ter corado. Nos abraçamos e meu corpo todo pulsava.
Falamos sobre a faculdade, algo assim, perguntei o que você estava fazendo ali.
Ciência da religião!
Tive duas longas conversas com você naquele ano, o último ano que o veria com vida, o último ano que qualquer pessoa o veria com vida.
Numa de nossas conversas, você disse que demorei muito para estar ali. E, de alguma forma parecia que você sabia tudo, tudo que se passava dentro de mim.
E, será que não sabia?
Queria que tivesse a dimensão do seu impacto em mim, mas não tive a oportunidade.
Como dói, perder a oportunidade.
Naquela mesma época, enquanto comprava algo num bar, vi você de longe práticando capoeira. Sentei no degrau do bar e fiquei admirando o que nunca poderia ter.
Depois da sua morte, não sei quem você foi, se teve filhos, se amou verdadeiramente.
E, sigo sentindo sua falta. Com a certeza que nunca mais poderei vê-lo.
Algo que nunca se teve, que nunca pode se provar.
Deve ser o mais puro dos sentimentos.
Sigo sentindo a falta do que nunca tive, a falta da possibilidade.
Sinto sua falta, falta de não poder ver você andando na rua.
Lembra, daquele dia no bar de bilhar?
Você encostado em mim, mais do que só sentado ao meu lado. Do teu corpo quente, da vontade na ponta da sua boca, do teu olhar nada isento, e do meu sorriso e "se".
Eu me lembro....
Como dizia Cazuza...
"teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu"....
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu"....