quinta-feira, janeiro 14, 2016

Devaneio

Primeiro você sente raiva, e até fica comedido em relação as ações. Planeja palavras, e até se sai bem sucedido nos argumentos, quase que por instinto.
Sai da batalha, como se não tivesse tido um menor arranhão, mas como se tivesse estraçalhado o oponente, fazendo com que ele se perdesse, nas suas próprias palavras.

Ainda, tentando manter a calma, imagina saídas estratégicas sobre como vai mencionar a todos o momento fatídico. Vai dizer, pausadamente, que tudo ocorreu bem, que apesar da outra pessoa ter se exaltado, você se manteve calmo e racional.

Nos primeiros dias, contudo, essa será sua versão, para o mundo exterior e para o mundo interior.
Acreditará, que essa é a semântica mais perfeita para o momento.

Mas, com os dias, descobrirá que saiu mais ferido do que imaginava, que angariou mais inimigos do que previa, que saiu mais como a vilão, do que como o mocinho.

Num Segundo passo, você vai querer ignorar o mundo, e até vai achar desculpas para essa atitude nos indícios de culpabilidade de todos envolvidos.

Contudo, vai refletir e entender, que as implicações de culpados e inocentes, são bem mais complexas para a vã filosofia pode explicar.

Você vai chorar e cair em pleno desespero, pois tentando entender, o que já era entendível para os mais espertos, você se lançou na lama mais escura, e entrou num espetáculo horrendo, onde todos são vítimas, vilões e mocinhos ao mesmo tempo, mas você é o fantoche.

Num Terceiro momento, vai sentir uma raiva tão estrondosa, que sentirá seus músculos paralisados, e com um medo tão arrebatador, que não consiguirá achar lugar no mundo que lhe caiba.

Pois, sabe, agora, mais do que nunca, que qualquer palavra que disser, vai ser usada contra você, da maneira mais sórdida.

Num Quarto momento, aparecerá tão confusa e destoante de sua própria personalidade, que vai procurar qualquer realidade externa para se apegar, e viver a espreita de uma irrealidade, que seja mais suportável do que a verdade que a espera nos lugares conhecidos.

A sua casa vai ser um lugar medonho, cheio de bichos que podem ferir você e os que ama.
As pessoas que amam, vão sentir como uma onda de desamor e inacreditável desligamento, a sua condição psiquíca.

Eles não vão entender, e você estará tão soterrado pelas emoções, que não vai, sequer, conseguir balbuciar uma palavra a respeito.

Muitas coisas vão tomar o lugar do real motivo, e você por horas irá se convencer desses devaneios, e até acreditar que são eles os responsáveis pelo seu comportamente arredio e desconectado com o mundo.

Quando se olhar no espelho, há somente uma casca, que por conveniência sorri e fala, mas não sente, pois quem realmente sente, está gritando por dentro.

Uma família desestruturada acaba com um ser.

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