terça-feira, outubro 13, 2009

Dr. Jivago

Numa madrugada, meio fria ou quase sem cor de cheiro, na sala de Tv dos meus avós, descobri uma vida igual ou perto do que pode ser a minha.

As retinas são partes do corpo engraçadas, elas refletem para dentro de nós, com mais nitidez, só o que lhes convém, o que acham que podemos melhor assimilar.
Vi Dr. Jivago quando era menina, muito menina, e a única coisa da qual me lembrava era a casa Congelada. No todo nem de Lara, Tonya...me lembrava...

E me pegando em súbito desconforto com as emoções, o filme vem me clarear o que um dia filmei em mim...e esqueci de assimilar...e agora faria de fato sentido.

Numa adaptação completamente diferente, com atores mais novos...trouxe um ar mais selvagem a Lara e de coragem à Tonya. Demonstrando mais a fraqueza do coração de Yuri, que era mero louco de amor na vida.

Os problemas, as nuances, os poemas de alguém não esquecido, a indecisão, o amor primeiro derrubado por outro tão intrigante, a paixão, o respeito.
Nunca o que tantos ressaltam, o adultério.
Foram essas características que me pularam aos olhos, e que tanto vi estampar minha vida...ou o que todos os dias tento esconder.

E diversas vezes me via em Dr. Jivago ou muitas vezes em Lara...e sem pestanejar nem dividir qualquer ruga de dúvida...nunca era Tonya...

Ela era forte, completamente apaixonada, e como Misha mesmo dizia: uma grande mulher, da qual Yuri não merecia.Eu não podia compartilhar com ela essas qualidades, não sentia em mim uma ponta de certeza, nem tão pouco coragem e determinação para um amor só...só aquele amor.

O engraçado é que no momento inicial...vendo os desejos e puros devaneios por que Lara passava , o seu senso sem pudor, nem vergonha e teu desejo de criar vínculo para se libertar, assim designando amor a Pasha. Tudo isso me pareceu tão familiar, neste instante era de mim que tudo aquilo se tratava.
E todos os personagens ligadas a ela tinham nome e endereço na minha vida, tinham sido algo derradeiramente parecido. Não do mesmo jeito, mas na essência praticamente iguais.

Sua capacidade de se deixar amar é interessante, e aquilo que se chama de seguro, conseguia ver no seu marido. E de repente de uma atração incomum, quase celestial vinha Yuri...e o tempo os separava, as circunstâncias...e neste momento eu não era mais Lara...mas desta vez era Jivago.

E até o fim dos tempos neste filme....acho que me confundi, amei duplamente, vivi na certeza de uma incerteza, tive um amor lindo de primeira, e outro .... e vivi escrevendo, tentando afogar nas páginas de qualquer caderno ou montante de folhas um sorriso, uma noite, um dia ou uma pessoa.

Como ele, eu era.

E como nele havia muito de Lara, eu era ele...por que também sou ela.

Na certeza que sou tua parte que escreve a vida, poeta! Sou o amado que ama duas. E dela sou a mulher sozinha, sou uma menina, aquela que consegue separar amor de vida, que se deixa apaixonar, tocar por prazer, que é capaz de ser tão segura de si, quando se desespera em dúvidas.

Quantas coisas vem dizer esse filme, quantas coisas tocaram meu ser. Quantas dúvidas eu tinha, quantas criei e agora preciso de mais certezas.

A vida ainda está em curso, não se sabe quando acabará...mas que pelo menos haja um pequeno caderno onde eu possa assoprar minhas verdades da alma. Onde possa escrever das pessoas de minha vida, possa deixar em metáforas suas características para mim mais marcantes. Onde possa esconder meus segredos através das palavras, onde possa ser mais entendivel, ou que somente possa deixar alguma alma suspeita, sentindo algo de familiar nas minhas palavras...

Que minhas histórias, meus poemas, meus textos, possam não ser só meus, mas do mundo...que outros possam ser protagonistas no meu filme. Como fui neste.

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