sexta-feira, junho 08, 2018

A falência da cabeça

Ainda falo, como, me visto, amo, beijo e abraço
Ainda dou sorrisos, converso, declaro e até escrevo
Ainda dirijo, assobio, canto, racho o bico, cago e e me entristeço
Ainda posso ser humano?
Mas, nesse ainda, que ainda me resta
Será?
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Resposta:


Já não  funciona a cabeça
É uma casca vazia que fala
Come
Se veste
Ama
Beija e abraça

Ela dirige, assobia
Declara
E até escreve
Ela canta
Racha o bico
Caga
E ainda se entristece

Pobre alma com a cabeça em falência
Nem incomoda as  flatulências alheias
O nariz nem assemelha
Deveria estar processada na vara das falsas indulgências
Esquece o umbigo
O bico
O filho
O marido
Esquece de si mesma

Esquece a marcha
A regra
A sacola
O lanche
E até de ser Juliana

Ela já não anda
Só se arrasta
Mas é boa na manipulação das máscaras
Imita bem o papel
Nessa vida mundana

Mas é quando fecha a porta
Do carro
Da casa
Do banheiro
Do boxe
E as lágrimas escorrem
E sua cabeça mostra a verdadeira
Falência
A demência
A impotência

Ela lava a cara
Passa make na face
Um brilho nas bochechas
E até se vergonha da falsa modéstia

Como parecer bem?
Estourada por dentro
Enfileirando razões
Para a morte presente

Declara logo essa falência
Menina!
Faça logo a verdade aparecer
Já me canso de responder
Com sorrisos vazios
Seus personagens bonitinhos

Deixa logo estampado para o mundo ver
que você não é forte
Nem nada
É mole
E quer nada
Dessa vida
Se não
Um descanso
Um suspiro
E um pranto
Desses contidos....



3 comentários:

  1. ei, moça, você não tem que parecer bem todo o tempo!

    lembre-se: você é um serumaninho muito lindo!

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  2. Vamos mudar só um pouquinho de assunto?

    (vá para a Flip, homenagear a Hilda...)

    Guirá Nãndu

    Para Teodoro (sob a Constelação da Ema, cujas penas são desenhadas por claro-escuros da Via Láctea)

    pode que a noite hoje
    se furte a amanhecer
    a terra desmorone
    nos bordos do poente
    e outra vez o sol
    como antes
    não desponte

    em busca de outro sol
    pode alguém se perder
    abandonando o humano
    para encontrar seu deus
    – o mesmo que ao nascer
    deu-lhe um nome secreto
    de sua divindade
    perfeito e repleto

    pode que na viagem
    no trajeto disperso
    um homem adivinhe
    a vereda possível
    sem fim, de sol a sol
    até que a fome e a febre
    o êxtase à flor da pele
    a intempérie, a prece
    a dança em excesso
    transportem o corpo adverso
    e o espírito pulse
    e respire
    e confronte
    o mar que o separa
    da terra indestrutível

    quem sabe o paraíso
    que descrevem os antigos
    não esteja além do vasto
    nevoeiro e sargaço
    mas no árduo percurso
    vencido passo a passo
    sem bússola ou mapa do céu
    em pergaminho
    talvez além do zênite
    que ofusca o caminho
    deixando um invisível
    roteiro para os olhos
    que enfrentam o escuro
    entre os dois
    crepúsculos

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  3. Vida! Olha viva ela! Que poesia mais linda..... Obrigadaaa aaaaaaa ..... gritando bem alto!

    "Em busca de outro sol
    Pode alguém se perder
    Abandonando o que é humano
    Para encontrar seu deus"

    Muito grata! Gratíssima!!!

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